So little time, so much to do...

Tuesday, September 26, 2006

Doce Ilusão para uma vida miserável

Acho que a miha relação com o teatro começou quando eu era criança. Brincar é fazer teatro. E as crianças são os mais puros atores que se podem encontrar: estão experimentando, para ver qual papel vão representar em suas vidas.
As brincadeiras para mim eram tão deliciosas que eu as prolonguei muito além da infância: brinquei de verdade até os 16 anos. Justo quando entrei para o grupo que realmente me iniciou no teatro.
Muitas vezes cheguei a pensar que fazia teatro porque era tão destituído de personalidade que precisava encanar a de outros. Mas foi justamente o teatro aquele que mais me ajudou a descobrir quem eu sou (um esboço muito incompleto ainda, e espero que eternamente assim seja).
No entanto para buscar a mim mesmo tenho também que buscar aos semelhantes, por mais dessemelhantes que sejam. E para se fazer teatro, deve-se entender esse outro, e nada melhor para entender esse outro do que se vestir na pele dele.
Além de tudo isso, o teatro me leva para um mundo que é aqule na qual eu realmente vivo. Não sei o nome dele, mas sei que é nele que a miha existência realmente é completa, inteira, real. Este que veêm fora de tudo o que sou eu, fora da palavra, fora da cena, fora das cores, das formas, dos sons, etc. não sou eu. É apenas um pedaço de eu. Me tornei tão irreal que o mundo concreto não me abarca mais. Estou (ou seria sou?) alienado de mim mesmo e minha natureza é aquilo que menos existe de natureza em mim.
Acabo sendo tão amplo e inalcançável que nem eu mesmo me conheço. Por isso quero viver tudo, por isso quero fazer teatro. E teatro pra mim significa estar fora de mim, significa transe, o momento sublime, o meu culto religioso. Teatro significa emoção. Emoção significa viver. O oposto de minha mísera vida racional. Tetro é a minha pílula para me sentir vivo.
Toda arte é teatro: quando se escreve, pinta, toca, modela, fotografa, etc., tudo isso é teatro, tudo isso é você travestido, é você fora de si, é você não-você, é teatro. Tudo humano é teatro: quando se pensa, fala, transa, casa, trabalha, sorri, imagina, senta, lê, cria,etc., tudo é representar, tudo faz parte do seu papel, tudo, até seus instintos, é teatro. Teatro é igual à humanidade. E essa humanidade é que é minha busca, isso que faz ciar mundos, que nos faz ser tão iguais e ao mesmo tempo tão diferentes, essa fascinante humanidade.
Se quer saber, sim, estamos aqui à toa, é isso que penso, o sentido da vida não existe, não está dado, nós o inventamos. E se quer saber, sim, a minha busca inventada é essa humanidade. Quero existir para conhecê-la, apreciá-la, devorá-la. E não só. O que eu conhecer quero compartilhar. É por isso que escrevo, é por isso que crio, é por isso que faço teatro. E isso é tudo (não tudo, mas uma boa parte)...

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